Sou o fiel intérprete do meu cão. Ele anda triste, desanimado e confuso. Precisa de um psicólogo para animais. Não tenho dinheiro. Propus-lhe um blog. Aceitou

26
Nov 08

O meu cão é que sabe. Já muitas fêmeas lhe passaram pela frente. Algumas marcaram, outras passaram mais rápido que uma Primavera na visão de uma senhora de 42 anos. Mas as que marcaram nunca se conseguiram impor. Nunca conseguiu dizer amo-te. Acho até que nunca disse um verdadeiro e sentido adoro-te, não por não haver a palavra adoro-te no cãozês, porque esta língua é até mais completa que o Português. Com um simples comportamento conseguem dizer “este território é meu, meu e só meu. Se quiseres partilho-o contigo. Casa-te comigo”. Se calhar acha que o adorar está num patamar que não existe na vida real, se calhar é tudo mais simples do que ele supõe. Mas é demasiado romântico. Acredita que as coisas têm de ser ditas aquando sentidas e nunca antes, nem depois. Acredita em momentos. Tem os seus momentos. Rápidos, com pouco sentido e muito complicados.  Gosta deles quando acabam. Gosta de os recordar, gosta de saber que o fez bem mas sofre por antecedência. E o durante também não é propriamente agradável. Muitas coisas lhe passam pela cabeça nesses momentos. Não desfruta mas é mais forte do que ele.

Acredita no outro como um auxílio para a sua própria evolução. Visão egoísta, eu sei, mas até o compreendo. Os outros têm sempre de lhe dar alguma coisa, que não toques, que não saliva nem estímulos físicos que o façam sentir exausto no momento, e vazio no exacto momento a seguir. A companheira tem de o fazer ser melhor, o melhor se for possível. Isso nunca aconteceu. Normalmente não passa do mediano. Uma vez vislumbrou um Bom, mas mesmo assim não era o que queria. Desistiu. É adepto da máxima “mais vale só que mal acompanhado”, sendo que a companhia nem sempre é má, apenas aparece num mau momento, numa má altura ou simplesmente a companheira escolheu um mau companheiro para a acompanhar nessa coisa chamada vida, que muitos dizem sem companhia não fazer sentido.

 

Sabe usar as palavras no momento exacto. Não vou dizer que é emocionalmente inteligente, porque não o é, não sabe, mas gosta do jogo do rato e do gato. Gosta de fazer feliz com as palavras. Consegue-o. Gosta de jogos de palavras. Tenta ganha-los a todo o custo. A todo o custo não, às vezes perde-os e fica contente. Supostamente a estes jogos deveria seguir-se algum contacto, mas normalmente fica um clima constrangedor, seguido de um boa-noite, isto tudo na língua de quatro patas. Mas porquê? Tantas frases para se usar e obter resultados, tanto para se puder transmitir e viver feliz para (quase) todo o sempre e ninguém a quem o queira transmitir. Será um apaixonado do papel?

 

“Obrigado por mais um bom dia... Saber-te aí.” Que desperdício.

 

publicado por o dono do cão às 01:46

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